Há cerca de dois meses uma jovem grávida, que mal falava português, abordou-me num parque de estacionamento de um supermercado. Pediu-me dinheiro. Nestas situações nunca dou dinheiro, mas ofereci-lhe comida. Ao abrir a mala do carro, ela reparou que tinha um cesto cheio de roupa de criança e pediu-me a roupa. Disse-lhe que era dos meus filhos, que vinha da lavandaria. Ela insistiu, disse que não tinha nada para o bebé vestir. Expliquei-lhe que existiam muitas associações onde poderia pedir roupa para o bebé e fui embora. Sempre a pensar naquela situação, a imaginar o bebé a nascer e a ser enrolado numa daquelas saias compridas que elas usam, e quanto mais pensava no bebé mais inquieta ficava. Eu sei que a maioria das pessoas desta etnia (nem sei se estou a utilizar o termo correto) não são bem vistas pelos portugueses, na maioria das vezes por culpa deles, porque não sabem estar em sociedade. Mas naquele momento só vi uma miúda que ia ser mãe, provavelmente estaria assustada, não teria o apoio da família, nem do pai da criança e que só queria uma roupinha para vestir ao seu bebé, porque (salvo raras excepções) todas as mães preocupam-se com o bem estar dos filhos. Quando cheguei a casa separei algumas roupas dos meus filhos, coloquei na mala do carro, fui até ao parque de estacionamento, no entanto não a encontrei mais. As roupas ainda continuam na mala do carro... pode ser que a volte a encontrar antes do bebé nascer.
E por que motivo conto isto? Porque muitas vezes, perante uma situação destas, inconscientemente pensamos "vai trabalhar" ou algo do género. Mas sejamos honestos, quem irá dar trabalho a uma rapariga mal vestida, grávida e mal sabe falar português? E se ninguém fizer nada o ciclo irá continuar, e aquele bebé, igual a tantos outros, terá o triste destino da sua mãe.